quarta-feira, 27 de julho de 2011

Para pintar o retrato de um pássaro

Grande poeta popular da literatura francesa contemporânea, Jacques Prévert  (1900-1977)     esteve voltado para as situações triviais do cotidiano e para o homem pequeno, impiedosamente massacrado pela rotina do trabalho e pelas engrenagens de uma sociedade que não favorece as aspirações mais legítimas do ser.





PARA PINTAR O RETRATO DE UM PÁSSARO

Para Elsa Henriquez

Primeiro pintar uma gaiola
com a porta aberta
pintar depois
algo de lindo
algo de simples
algo de belo
algo de útil
para o pássaro
depois dependurar a tela numa árvore
num jardim
num bosque
ou numa floresta
esconder-se atrás da árvore
sem nada dizer
sem se mexer…
Às vezes o pássaro chega logo
mas pode ser também que leve muitos anos
para se decidir
Não perder a esperança
esperar
esperar se preciso durante anos
a pressa ou a lentidão da chegada do pássaro
nada tendo a ver
com o sucesso do quadro
Quando o pássaro chegar
se chegar
guardar o mais profundo silêncio
esperar que o pássaro entre na gaiola
e quando já estiver lá dentro
fechar lentamente a porta com o pincel
depois
apagar uma a uma todas as grades
tendo o cuidado de não tocar numa única pena do pássaro
Fazer depois o desenho da árvore
escolhendo o mais belo galho
para o pássaro
pintar também a folhagem verde e a frescura do vento
a poeira do sol
e o barulho dos insectos pelo capim no calor do verão
e depois esperar que o pássaro queira cantar
Se o pássaro não cantar
mau sinal
sinal de que o quadro é ruim
mas se cantar bom sinal
sinal de que pode assiná-lo
Então você arranca delicadamente
uma das penas do pássaro
e escreve seu nome num canto do quadro.


de “Paroles” (1945)

poema do livro "Poemas de Jacques Prévert”, edição Nova Fronteira (Rio de Janeiro, 2000)



 
La Colombe d'Or, Circa 1950
Original collage and colored pencils realized by Jacques Prévert with the annotation in ink by the artist "Sur l'arbre à bouteilles veille toujours la Colombe d'Or.
Jacques Prévert".

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Arte e psicanálise


  “Deus inventou a arte (em todas as formas) como dispositivo regulador, como dispositivo de sobrevivência. O público é desnecessário. A comunicação é rara; a arte é uma língua, como a língua chinesa. Quem entende?” (In: “A Escrita Terapêutica de Louise Bourgeois”).
 
Sobre sua própria arte e sobre a arte em geral ela escreve:
“Minhas emoções são inapropriadas ao meu tamanho. Elas são meus demônios – não as emoções, mas sua intensidade: são demais para suportar, então transfiro essa energia para a escultura. Minha escultura, portanto, não tem nada haver com material, com estilo, com técnicas. Aliás, essas coisas não são objetos do artista. Os objetos do artista  são: emoções e idéias, os dois”.

 


 Mais de 100 obras suas – esculturas, instalações e desenhos – estão expostas na mostra Louise Bourgeois – O retorno do desejo proibido, em cartaz em São Paulo.


Leitora das obras de Sigmund Freud, Jacques Lacan e Melanie Klein, a artista, morta em 2010 aos 98 anos, deixou inúmeros escritos sobre sua relação com a psicanálise, nos quais associa suas produções a registros de seu passado. 
“O trabalho da Louise Bourgeois é de orientação psicanalítica, mais que o de qualquer outro artista do século 20; arte e psicanálise estão completamente fundidas na sua produção”afirma o curador da mostra, o canadense Philip Larratt-Smith.

Louise Bourgeois  nasceu em Paris, no dia 25 de dezembro de 1911. Ela se mudou para Nova York em 1938, após  casar-se com o historiador de arte americano Robert Goldwater,  se tornou cidadã dos Estados Unidos em 1955.Morreu em Nova York  aos 98 anos.

Louise Bourgeois – O retorno do desejo proibido. Instituto Tomie Ohtake. Av. Brig. Faria Lima, 201 (entrada pela rua Coropés), Pinheiros, São Paulo. Terça a domingo, das 11h às 20h. Grátis. Informações: (11) 2245-1900. De 7 de julho a 28 de agosto.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

móveis sustentáveis

Uma mala velha é apenas uma mala velha, mas para a designer Katie Thompson  é a matéria-prima para bancos, sofás e até armários.

 Katie criou o projeto Recreate. É uma linha de móveis sustentáveis. Com algumas modificações, malas, caixas e baldes que iriam para o lixo se transformam em sofás, mesas, pufes e objetos de decoração.


“Eu amo criar arte funcional a partir de lixo descartado e sem utilidade. O que para alguns era lixo se transforma em algo extraordinário”, afirma Katie.


 
Todos os móveis são únicos, já que a matéria-prima nunca é exatamente igual.

http://www.recreate.za.net/